VOCE SABE O QUE É A ECONOMIA SOLIDÁRIA?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

IMPRESSIONANTE O QUE UM TORNEIROMECÂNICO PODE FAZER PELO BRASIL.
BALANÇO BRASIL 2009
O ex-presidente FHC mandou um recado esta semana pela televisão ao Senhor Lula da Silva para que trabalhasse mais, mentisse menos e não pensasse em terceiro mandato. Com base em dados publicados pela imprensa, tomo a liberdade de fazer um pequeno balanço comparativo dos oito anos do governo FHC com os sete anos do governo LULA. Balanços comparativos são previstos na Lei das Sociedades Anônimas (art. 176):
DADOS DO GOVERNO FHC LULA RISCO BRASIL 2.700 PONTOS200 PONTOSSALÁRIO MÍNIMO 78 DÓLARES280 DÓLARES (janeiro 2010)DÓLAR R$ 3,00R$ 1,78 (dezembro 2009)DIVIDA FMI TriplicouPAGOUINDUSTRIA NAVAL NÃO MEXEURECONSTRUIUUNIVERSIDADES NOVAS NENHUMA 10EXTENSÕES UNIVERSITÁRIAS NENHUMA 45ESCOLAS TÉCNICAS NENHUMA214VALORES E RESERVAS DO TESOURO NACIONAL185 BILHÕES DE DÓLARES NEGATIVOS230 bilhões de dólaresCRÉDITOS PARA O POVO - PIB 14%34%ESTRADAS DE FERRO NENHUMA 03 (EM ANDAMENTO) ESTRADAS RODOVIÁRIAS 90% DANIFICADAS 30% RECUPERADAS INDUSTRIA AUTOMOBILIÍSTICA EM BAIXA 20% EM ALTA 30% CRISES INTERNACIONAIS 04 ARRASANDO O PAÍS NENHUMA PELAS RESERVAS ACUMULADASCÂMBIO FIXO: ESTOURANDO O TESOURO NACIONAL FLUTUTANTE: COM LIGEIRASINTERVENÇÕES DO BACEN TAXA DE JUROS SELIC 27%8,75%MOBILIDADE SOCIAL 2 MILHÕES DE PESSOAS SAÍRAM DA LINHA DE POBREZA 23 MILHÕES DE PESSOAS SAÍRAM DA LINHA DE POBREZA EMPREGOS 780 MIL EMPREGOS 11 MILHÕES DE EMPREGOS INVESTIMENTOS EM INFRAESTRURA NENHUM 504 BILHÕES DE REAIS PREVISTOS ATÉ 2010POLICIA FEDERAL 80 PRISÕES Mais de cinco mil prisõesROMBO NO ESTADO BRASILEIRO 30 BILHÕES (ou mais) NAS PRIVATIZAÇÕESNenhumMERCADO INTERNACIONAL SEM CRÉDITO PARA COMPRAR UMA CAIXA DE FÓSFOROINVESTIMENT GREATECONOMIA INTERNA ESTAGNAÇÃO TOTAL COM DESINFLAÇÃO INERCIALINCLUSÃO DE CONSUMIDORES E SURGIMENTO DE INVESTIDORESREFORMAS POLITICA, ADMINISTRATIVA, TRIBUTÁRIA NENHUMANENHUMA

sábado, 26 de setembro de 2009

Barlavento

Barlavento é um (mais um) espaço das idéias que querem mudar e criticar o mundo (não necessariamente nesta ordem, porque para isso não há uma ordem pré-estabelecida).Somos de esquerda. Não embarcamos na arca dos novos contentes que dizem que isso não quer mais dizer nada. Nem temos uma definição inabalável do que isso queira dizer. Mas não suportamos ver a vida (o tempo de vida, tudo do que é e pode ser feita) reduzida à mercantilização; não nos conformamos com a distribuição injusta e desigual do acesso ao mundo e não tomamos como naturais nenhuma das formas pelas quais pessoas estejam subjugadas a pessoas.Nosso compromisso é com a crítica que se pretenda útil, a serviço das mudanças almejadas e das resistências necessárias. Entendemos o marxismo como uma ferramenta indispensável para compreender o mundo e pensar a construção de uma nova sociedade, na qual homens e mulheres não explorem seus semelhantes, e nem sejam obrigados/as a competir com eles/as.Barlavento não é um porta-voz de posições de um agrupamento político; pretende ser uma janela de diálogo entre posições conseqüentes na trincheira da transformação. Estará aberto a diferentes abordagens do enorme desafio de entender melhor o mundo do ponto de vista dos que querem transformá-lo.No momento em que se multiplicam as “vozes” no mundo virtual, não nos vemos como em disputa com outros espaços, mas compondo o leque das expressões (de movimentos sociais, partidos, veículos alternativos de comunicação) de uma esquerda que se recusa a escolher entre a adesão silenciosa e gritos vazios. Queremos pensar e não nos sentimos envergonhados por isso. E este espaço só existe porque queremos fazê-lo em diálogo, em aberto, ao “ar livre” das outras percepções.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

o assassinato de Elton Brum pela Brigada Militar

Nota do MST: “Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!”
Aug 21st, 2009
by Marco Aurélio Weissheimer. 2 comments
O MST acaba de divulgar nota pública sobre o assassinato de Elton Brum pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul:
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público, manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:
1. Denunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.
2. Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.
3. Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.
4. Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.
5. Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.
6. Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.
7. Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.
8. Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.
Exigimos Justiça e Punição aos Culpados!
Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!
Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!

domingo, 2 de agosto de 2009

PÁTRIA MADRASTA VIL


08 Junho 2009

PÁTRIA MADRASTA VIL
ALUNA BRASILEIRA DE DIREITO GANHA CONCURSO MUN DIAL DE REDAÇÃO

PÁTRIA MADRASTA VIL
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL... Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

Autora: Clarice Zeitel Vianna Silva, 26 anos, estudante de direito.

Publicidade na gestão Serra


MP abre investigação sobre publicidade na gestão Serra AE - Agencia Estado SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual (MPE) abriu inquérito civil para apurar suposta omissão por parte do governo do Estado de São Paulo quanto à prestação de informações sobre contratos e gastos de publicidade durante o ano de 2008. A investigação foi aberta após o deputado estadual Rui Falcão (PT) acusar formalmente o governo José Serra (PSDB) de ocultar dados e atrasar o envio das respostas referentes a esses gastos para a Assembleia Legislativa do Estado.No Inquérito Civil 312/2009, o promotor Silvio Marques registra que serão alvo das investigações as despesas e os contratos de publicidade referentes ao ano de 2008, tanto da administração direta como das autarquias e empresas estaduais, bem como os dados relativos às campanhas de transporte e saneamento veiculadas a partir de dezembro do ano passado.O líder da bancada do PT sustenta que 16 requerimentos pedindo informações a órgãos do governo foram respondidos de forma incompleta e fora do prazo, não permitindo análise dos gastos com publicidade. Por lei, os órgãos do governo são obrigados a prestar informações e dentro do prazo de 30 dias. Levantamento feito pela liderança do PT no Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo) mostra que só na administração direta o governo Serra aumentou em 38,6% os gastos de propaganda nos quatro primeiros meses deste ano em comparação com igual período de 2008.
Você está pagando o condomínio residencial do senador José Agripino Maia
Quem mora em apartamento sabe o quanto é duro todo mês pagar o condomínio, e quem mora em casa também tem que pagar a água, e as demais contas da casa.Mas o senador José Agripino Maia (DEMos/RN), não tem esse problema.O líder do DEMos no senado mora no topo de um edifício de luxo de 16 andares. Uma cobertura, com piscina, no Condomínio Residencial Aurino Vila. Fica na Rua Carlos Passos, bairro do Tirol, área prá lá de nobre de Natal.O condomínio de R$ 810,00 por mês é a gente quem paga.Apesar do polpudo salário de um senador, José Agripino Maia pendura a conta na verba indenizatória do Senado, para o povo brasileiro pagar, como se fosse despesa de "escritório político".http://www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com/

quarta-feira, 22 de julho de 2009

sábado, 18 de julho de 2009

jornalista condenado por fazer jornalismo


A história de Lúcio Flávio Pinto, jornalista condenado por fazer jornalismo
Lúcio Flávio Pinto talvez seja hoje o jornalista mais respeitado e destemido da Região Norte. Ele é o solitário redator do Jornal Pessoal, empreitada independente, que não aceita anúncios, tem tiragem quinzenal de 2 mil exemplares. Há 17 anos, os representantes da família Marinho no Pará (O Liberal) perseguem-no de forma implacável. Ronaldo Maiorana, um dos donos do Grupo Liberal já emboscou Lúcio por trás, num restaurante, e espancou-o com a ajuda de dois capangas da Polícia Militar. Agora, um juiz do Pará condenou Lúcio Flávio a pagar 30 mil reais aos irmãos Maiorana. O artigo é de Idelber Avelar.
Idelber Avelar - O Biscoito Fino e a Massa
Artigo publicado no blog O Biscoito Fino e a Massa.Prepare-se, caro leitor, para outro mergulho no Brasil profundo. Lúcio Flávio Pinto talvez seja hoje o jornalista mais respeitado e destemido da Região Norte. Ele é o solitário redator do Jornal Pessoal, empreitada independente, que não aceita anúncios, tem tiragem quinzenal de 2 mil exemplares e mesmo assim provoca um fuzuê danado entre os poderosos, dada a coragem com que Lúcio investiga falcatruas e crimes. Lúcio já ganhou quatro prêmios Esso. Recebeu também dois prêmios da Federação Nacional dos Jornalistas em 1988, por suas matérias dedicadas ao assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles e à violenta manifestação de protesto dos garimpeiros de Serra Pelada. Em 1997, ele recebeu o Colombe d’Oro per la Pace, um dos mais importantes prêmios jornalísticos da Itália. Em 1987, foi o jornalista que investigou o rombo de 30 milhões de dólares no Banco da Amazônia, por uma quadrilha chefiada pelo presidente interino do banco e procurador jurídico do maior jornal local, O Liberal. Há 17 anos, os representantes paraenses da corja comandada pela família Marinho perseguem-no de forma implacável. Ronaldo Maiorana, dono (junto com seu irmão, Romulo Maiorana Jr.) do Grupo Liberal, afiliado à Rede Globo de Televisão, emboscou Lúcio por trás, num restaurante, e espancou-o com a ajuda de dois capangas da Polícia Militar, contratados nas suas horas vagas e depois promovidos na corporação. O espancamento, crime de covardia inominável, só rendeu a Maiorana a condenação a doar algumas cestas básicas. Alguns meses depois da agressão, Lúcio foi convidado pelo jornalista Maurizio Chierici a escrever um artigo para um livro a ser publicado na Itália. O texto, eminentemente jornalístico, relatava as origens do grupo Liberal. Em determinado momento, dentro de um contexto bem mais amplo, ele fez referência às atividades de Maiorana pai no contrabando, prática bem comum, aliás, na Região Norte na época. Como se pode depreender da leitura do artigo, nada ali tinha cunho calunioso, posto que – uma vez processado --, Lúcio anexou aos autos toda a documentação que provava a veracidade do que afirmava. A obra investigativa de Lúcio fala por si própria: veja a qualidade da prosa e da pesquisa que informa o trabalho de Lúcio e julgue você mesmo. O que ele oferece em seus textos, entre muitas outras coisas, é a documentação, história e raízes daquilo que é sabido até mesmo pelos mosquitos do mercado Ver-o-Peso: que n'O Liberal só se publica aquilo que é de interesse da corja dos Marinho. Mas eis que chega do Pará a estranha notícia de que o juiz Raimundo das Chagas, titular da 4ª vara cível de Belém, condenou Lúcio a pagar a soma de 30 mil reais aos irmãos Maiorana – representantes paraenses, lembrem-se, da organização comandada pelos Marinho. Lúcio também foi condenado a pagar as custas processuais e os honorários advocatícios. A pérola de justificativa do juiz fala do “bom lucro” de um jornal artesanal, de tiragem de 2 mil exemplares por quinzena. Ainda por cima, o juiz proíbe Lúcio de usar “qualquer expressão agressiva, injuriosa, difamatória e caluniosa contra a memória do extinto pai dos requerentes e contra a pessoa destes”, o que constitui, segundo entendo, extrapolação característica de censura prévia contrária à Constituição Federal. O juiz fundamenta sua decisão dizendo que Lúcio havia “se envolvido em grave desentendimento” com eles. É a velha praga do eufemismo: um espancamento pelas costas se transforma em “desentendimento”. A reação de Lúcio à sentença pode ser lida nesse texto. O Biscoito se solidariza com Lúcio, coloca o site à disposição para o que for necessário - inclusive para a publicação de qualquer material objeto de censura prévia – e suspira de cansaço ao fazer outro post que mais parece autoplágio, dada a tediosa repetição desses absurdos. Resta a pergunta: até quando os Frias, Marinho, Civita, Mesquita e seus comparsas vão manter esse poder criminoso Brasil afora?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Juiz que enfrenta narcopolítica vive confinado no Brasil.


03 Jul
Reportagem
Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância de sete agentes federais fortemente armados. Oliveira é juiz federal em Ponta Porã , cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário, sob forte escolta. Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. ‘A única diferença é que tenho a chave da minha prisão. Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte.

Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$100 mil.’ No dia 26 de junho, o jornal paraguaio Lá Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. ‘Estou valorizado’, brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado.

É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande.. O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. ‘Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada.

Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu ‘bunker’, auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos , condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas. O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.

Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o ‘rei da soja’ no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. ‘As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados.’ O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha ‘dever de ofício’ enfrentar o narcotráfico. ‘Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lula, o inconcebível


Já fez mais do que todos os outros
Recebi este texto por email. De tão simples e direto e por desnudar os vários preconceitos de que é vítima o presidente Lula, resolvi partilhá-lo. Leiam, vale a pena.

O inconcebível Lula

FHC, o farol, o príncipe dos sociólogos, entende de sociologia tanto quanto o governador de São Paulo pelo PSDB, José Serra, entende de economia.

*Lula, que eles dizem que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores.
*Lula, que eles dizem que não entende de economia, pagou as contas do entreguista FHC e ainda zerou a dívida com o FMI…
*Lula, que não entende de educação, pois boa parte da oposição e da mídia o classificam como analfabeto e burro, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos e ainda criou o Pró-Uni onde filho de pobre vai à universidade…
*Lula, que eles dizem que não entende de finanças nem de contas públicas elevou o salário mínimo de 64 para mais de 200 dólares e não quebrou a Previdênciacomo dizia FHC…
*Lula, que eles dizem que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e mantém o Brasil inteiro e forte em plena crise financeira mundial
*Lula, que eles dizem que não entende de engenharia, nem de mecânica, reabilitou o pró-alcool, acreditou no biodisel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis…
*Lula, que dizem que não entende de política , mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8…
*Lula, que eles dizem que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu, mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros dosul e especialmente para o vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista, tem trânsito livre com Chaves, Fidel, Obama, Evo etc….
*Lula, ainda, colocou o primeiro negro no Supremo e uma mulher no cargo de “primeira-ministra” e vai fazê-la sua sucessora.
*Lula, que eles dizem que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC, antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora do Estado investir e hoje (o PAC) é um amortecedor da crise…
*Lula, que eles dizem que não entende de crise, mandou abaixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre…
*Lula, que eles chamam de analfabeto, não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais, é respeitado como uma das pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual…
Pois é, eles dizem Lula não entende nada de nada e mesmo assim é melhor que todos os outros presidentes que o Brasil já teve. Por Bohn Gass.

domingo, 14 de junho de 2009

A sociedade contemporânea à luz da utopia

A sociedade contemporânea à luz da utopia, na visão de intelectuais italianos http://oriundi.net/index.phpgunda-feira - 01/06/2009

Vita Fortunati, da Universidade de Bolonha, e Cosimo Quarta, da Universidade do Salento, além de dois outros colegas europeus, analisam o lugar do ideário da utopia no mundo contemporâneo. Fotos: Jornal da Unicamp
Os professores Cosimo Quarta (Universidade do Salento), Vita Fortunati (da Universidade de Bolonha), Jean-Michel Racault (Universidade da Réunion) e Peter Kuon (Universidade de Salzbourg) analisam, em artigo publicado no Jornal da Unicamp, o lugar do ideário da utopia no mundo contemporâneo e sua influência na produção cultural, apontando também quais são as obras relevantes que atualmente se enquadram no pensamento utópico.
Os quatro intelectuais, que fazem parte do conselho editorial da Revista Morus, editada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), participarão do II Congresso Internacional de Estudos Utópicos, que ocorre na Unicamp entre os dias 7 e 10 de junho. O evento reunirá representantes de 11 países e de 36 universidades.
Vita Fortunati é professora de língua e literatura inglesas, é diretora do Centro Interdipartimentale di Ricerca sull'Utopia da Universidade de Bolonha e de Forme dell'Utopia, uma coleção de textos primários e críticos publicada pela editora Longo, de Ravena. Coordena, em nível nacional, o primeiro projeto europeu de Master (Erasmus Mundus Gemma) em Women's and Gender Studies e também um projeto europeu de redes temáticas sobre o tema da Interface entre Ciências Humanas e Ciências Exatas com o título Acume 2, Interfacing Sciences, Literature and Humanities.
Cosimo Quarta é professor de filosofia da história e ética ambiental na Universidade do Salento (Lecce, Itália), e co-fundador e diretor do Centro Interdipartamentale di Ricerca sull'Utopia. Suas pesquisas, desde o início dedicadas ao pensamento utópico, tratam dos problemas de história da utopia (Platão, Morus, Campanella, Andreae, Péguy) e das relações entre utopia e ideal, ideologia, mito, escatologia, milenarismo, futurologia, ciência, ficção científica, ecologia, revoluções, igualdade, paz, não-violência.
Jornal da Unicamp - A utopia ajuda a compreender o mundo contemporâneo?
Jean-Michel Racault - Poderíamos responder a esta pergunta com duas outras: O que se deve entender por mundo contemporâneo? O que é utopia?
A primeira pergunta é bastante simples. Se o "mundo contemporâneo" é entendido como aquele ao qual pertence certa obra utópica, seu autor e também seus leitores, a resposta é, certamente, sim. Parece que em todas as épocas a função principal dos textos utópicos foi a de entabular uma reflexão crítica sobre a realidade social na qual eles estão enraizados.
A República de Platão é uma resposta à crise das cidades gregas após a guerra do Peloponeso, no momento em que elas se encontram em meio a modelos antagonistas, Atenas e Esparta, a democracia e o autoritarismo, o comércio e a guerra. Quando publica sua Utopia em 1516, em plena conquista européia da América e às vésperas da Reforma, é evidente que Thomas More tenta pensar ao mesmo tempo os dois problemas que são colocados em sua época: um mundo brutalmente dilatado pelas Grandes Descobertas, e as relações do cristianismo e do paganismo em uma perspectiva religiosa renovada pelo humanismo evangélico.
Mas se a palavra "contemporâneo" designa o mundo onde nós vivemos hoje, em 2009, a questão exige que nos indaguemos se este vastíssimo corpus de textos que se estende por mais de dois milênios - grosso modo, da República de Platão à atual ficção científica - tem algo a nos ensinar ainda hoje. Sobre este ponto, a resposta depende muito da universalidade ou da variabilidade dos ideais e dos sistemas políticos: o que nos aparece hoje em dia como bom e justo seria também o ideal de dois mil anos atrás? A tipologia dos modelos de governo sobre a qual o pensamento político se apoiou durante séculos - timocracia, oligarquia, democracia, tirania - é passível de ser transposta ao mundo atual, apesar de todas as suas mutações?
Quanto à segunda interrogação - o que é a utopia? - ela é provavelmente insolúvel, pois esta palavra compreende duas noções diferentes. Se chamarmos de utopia o "sonho de um mundo melhor", ou seja, a aspiração a transformar a realidade existente para que se chegue a uma sociedade mais racional, mais justa, mais feliz… o objetivo parece ser agir sobre a realidade contemporânea ao invés de procurar compreendê-la, mesmo que uma coisa dependa da outra.
Mas ganharíamos em clareza se batizássemos de utopismo tudo o que se configure como programa de transformação radical da sociedade, reservando a palavra utopia para um gênero literário em que se apresenta ao leitor uma sociedade imaginária, apartada, em funcionamento, como se ela realmente existisse. Há, portanto, sem dúvida alguma, um deslocamento em relação ao mundo contemporâneo do autor e do leitor. No entanto, este deslocamento não se situa mais na dimensão do porvir, como é o caso no utopismo, mas na dimensão do alhures - por exemplo, numa ilha dos antípodas.
Neste caso, o objetivo primeiro não é transformar a sociedade de seu tempo, mas ajudar a compreendê-la, pensando-a em sua complexidade. Contrariamente à representação convencional do utopista como um sonhador irrealista ou um entusiasta ingênuo, os autores das utopias são mais irônicos do que militantes.
Vita Fortunati - Estudando a utopia no final do século XX e no início do século XXI não se pode prescindir de interrogar-se sobre sua função na história e na sociedade contemporânea. Tal questão é fundamental não apenas quando se elabora um projeto de pesquisa, mas também se escolhemos trabalhar com os temas da utopia e do utopismo em cursos destinados a estudantes universitários.
Penso que a potência da utopia reside na capacidade de suscitar um pensamento sobre os possíveis laterais da experiência. Trabalhar, nestes anos, tem tido o sentido de confrontar-me com estudiosos de disciplinas diversas, unidos por uma clara vontade de repensar tanto a capacidade de especulação e abstração que a utopia implica, quanto suas declinações históricas e suas valorações políticas e ideológicas. Ainda mais ambiciosa foi, e ainda é, a vontade de entender se é possível adotar a utopia como método, isto é, como instrumento de indagação do real, como método hermenêutico.
Nessa perspectiva, creio poder individuar finalidades comuns aos estudiosos do Centro, afirmando que indagar sobre a utopia e a antiutopia nestes anos significou atribuir um valor importante ao percurso heurístico que cada pensador utópico traça, ainda que com orientações extremamente diversas. A utopia pode também ser considerada como a procura de compensação para algo que está faltando e se busca tenazmente, tanto em termos sociais quanto pessoais. Como evidenciaram F.E. Manuel e F.P. Manuel em Utopian Thought in the Western World [1979], a relação que o utopista instaura com o tempo e com a história é complexa e intricada.
O utopista observa o real com um olhar escrutador e em seguida se distancia, ou mais precisamente, recua para assumir um comportamento crítico, desconstrutivo frente aos males e à sociedade contemporânea. A utopia - e aqui fica clara a ligação genealógica com a sátira - pressupõe uma recusa global do mundo: o utopista opera uma dissecção que o leva a efetuar uma censura. Enquanto o escritor satírico anatomiza o real para revelar seus defeitos, o utopista é capaz de superar a fase destruens pela criação do projeto: ele descompõe o real para recompô-lo segundo o próprio nomos.
Na utopia positiva se passa sempre de uma fase destruens a uma fase costruens. Observar as convenções e as instituições de um ponto de vista recrutado significa esvaziá-las dos significados que lhes são atribuídos pelo senso comum. Este procedimento passa de comportamento mental a, não apenas um expediente de técnica literária, mas também a um modo de deslegitimar cada aspecto político, social e religioso da sociedade onde vive o utopista.
Peter Kuon - Vivendo um progresso tecnológico e civilizatório irresistível, o mundo contemporâneo perdeu a ilusão de poder realizar uma sociedade ideal. A utopia programática, projeto a realizar, não tem mais futuro. Valeria mais lembrar-se dos inícios da utopia, em Thomas Morus, como diálogo controverso acerca da hipótese de uma sociedade perfeita. Esta hipótese é sempre atual, em todas as contemporaneidades, já que ela permite pensar, mediante uma imagem concreta, alternativas ao mundo existente. O questionamento do topos passa pelo ou-topos. Reformulando a questão: a utopia não ajuda a compreender o mundo contemporâneo, ela ajuda a pensar o "outro" do mundo contemporâneo.
Cosimo Quarta - Se a utopia, como defendo, é sobretudo um comportamento fundamental do espírito humano, isto é, uma característica peculiar da espécie homo, enquanto homem, desde suas primeiras origens, que se manifesta não apenas como sapiens, mas também como utopicus, ou seja, um "ser projetante", então não há dúvida que a utopia ajuda a compreender o mundo contemporâneo muito melhor do que outras categorias da história. No entanto, para utilizar corretamente a utopia como modelo de interpretação histórica - e portanto do mundo contemporâneo - é necessário preliminarmente redefinir seu conceito, depurando-o de todas as incrustações que ao longo dos séculos o deturparam e banalizaram.
Dito de outro modo, é preciso liberar-se da concepção corrente que entende a utopia como extravagância, quimera, castelo nos ares, cidade nas nuvens, sonho, miragem, ilusão e por aí vai. Mas é preciso também evitar definir a utopia como cidade ideal, estado perfeito, sociedade imaginária, pois são estas definições que não apreendem o verdadeiro sentido da utopia, tal como o havia originariamente entendido Thomas More que, como é sabido, foi quem cunhou este extraordinário neologismo, que hoje é conhecido e usado - infelizmente, com frequência despropositada - praticamente em todas as línguas do mundo.
No exastichon do "poeta Anemolius" - um dos escritos preliminares que acompanharam a obra de More logo nas primeiras edições - é explicado com clareza o sentido do termo "Utopia". Este "estado" - cujo território transformou-se de península em ilha - foi chamado pelos antigos ou-topia (não lugar), ou seja, a ilha que "não é", por causa do seu "isolamento", porque ninguém a conhecia nem a frequentava; mas, após a conquista de Utopus, ela foi transformada em um "ótimo estado", isto é, em uma sociedade que possuía instituições tão boas que não somente podiam competir com a República de Platão, mas chegavam a superá-la, já que, enquanto Platão havia delineado seu estado somente com palavras, e desta forma ele havia permanecido um projeto, a Utopia se apresenta, ao contrário, como uma sociedade viva, justa, plenamente realizada, com ótimas instituições, e por isso, justamente, o poeta Anemolius (ou seja, More) conclui que ela pode ser chamada de Eutopia, o "lugar do bem", a boa pólis, ou ainda o "ótimo estado", onde reinam a justiça, a liberdade, a cultura, o bem-estar. More está nos dizendo, portanto, que Utopia é o projeto da sociedade boa, justa, virtuosa e fraterna (eu-topia) que ainda não existe (ou-topia), mas está propensa a se realizar.
Viver em uma sociedade guiada pela justiça constitui uma das mais profundas aspirações da humanidade. Desde os primórdios da história - como muitos mitos nos revelam claramente - cada geração humana elaborou (de maneira implícita ou explícita) um projeto utópico próprio, esforçando-se para realizá-lo, mesmo se tal realização nunca é completa por causa dos obstáculos que se interpõem sempre que se passa da teoria à prática.
Mas o que uma geração não consegue realizar é retomado pelas gerações sucessivas que, por sua vez, elaboram seu projeto utópico, e assim acontecerá sempre, enquanto durarem o homem e a história. Portanto, haverá utopia enquanto houver história. Eis porque a utopia pode ser também definida como o motor da história. Compreende-se melhor, agora, à luz destas considerações, porque a esta primeira pergunta respondi que a utopia ajuda a compreender o nosso tempo muito melhor do que outros modelos interpretativos do processo histórico.
JU - Existe um revival da questão utópica? Se sim, quais são as razões deste fato?
Jean-Michel Racault - Aqui, mais uma vez, pode-se responder com um sim e um não.
Não, porque como gênero literário, a utopia sob sua forma que podemos qualificar de "clássica" cessou, ao que parece, de ser produtiva hoje, e compreende-se bem o porquê. Esta forma, surgida em 1516 junto com a palavra, com A Utopia de Thomas More, repousava sobre a ficção de uma viagem realizada - por um europeu quase sempre - a uma região afastada e desconhecida, frequentemente uma ilha do hemisfério sul. É o caso, em More, da ilha de Utopia - ela se chama assim - que o título apresenta como "recentemente descoberta" por um dos companheiros de Vespucci.
Mais tarde, nos séculos XVII e XVIII, as utopias se apoiarão com mais frequência em um mito científico, o do Grande Continente Austral Desconhecido, com seus arquipélagos satélites, que os cosmógrafos supõem indispensável ao equilíbrio do globo para compensar a massa emersa do hemisfério Norte. Mas este mito vai por água abaixo com as grandes expedições científicas de finais do século XVIII, particularmente com a segunda viagem do capitão Cook em 1772, que demonstra que as Terras Austrais, se existem, não têm nem as dimensões, nem o clima, nem, é lógico, as populações que se imaginava.
O fundamento da utopia é a alteridade. Ora, a partir dos anos 1880, não há mais nenhuma zona desconhecida no globo terrestre e a alteridade geográfica das localizações imaginárias não é mais aceitável do ponto de vista da verossimilhança. O modelo utópico tradicional, da ficção realista com descoberta fortuita de uma ilha desconhecida, não é mais realmente admissível, então o gênero deve adotar outras formas.
E talvez neste momento possamos responder positivamente e falar de revival da utopia por meio de diversas renovações formais cujas origens são, aliás, relativamente antigas. Por exemplo, a viagem no tempo - e não mais no espaço -, cujo primeiro exemplo é L'An 2440 de Louis-Sébastien Mercier [1771], mas que se desenvolverá sobretudo a partir do fim do século XIX - Looking Backwards, de Bellamy, 1888 ou News from Nowhere, de Morris, 1890.
E, sobretudo, é claro, a ficção científica, que não podemos reduzir a uma versão modernizada da antiga literatura utópica, mas que aborda frequentemente os mesmos problemas combinando as duas formas de deslocamento em relação ao real de referência, no espaço - os outros planetas - e no tempo - o futuro. Aqui também as origens são muito antigas: desde o século XVII Cyrano de Bergerac, em L'Autre Monde [1657] havia aplicado dados científicos - da recentíssima revolução astronômica galileana - para relatar uma viagem à Lua seguida de uma outra, ao Sol.
Vita Fortunati - Creio que existe um ressurgimento do pensamento utópico por uma série de motivos. O primeiro: após a crise do capitalismo e das ideologias, precisamos de modelos alternativos. Nestes anos, no nosso centro, temos afrontado o problema da identidade europeia e da interculturalidade em uma perspectiva utópica. Creio que, numa visão global, há a necessidade de um confronto entre as várias tradições do pensamento utópico, não apenas a ocidental, mas também a asiática e a africana.
Gostaria de assinalar que, nos últimos anos, os estudos utópicos, e certamente também as pesquisas promovidas pelo Centro di studi interpatimentali dell'Utopia de Bolonha, orientaram-se principalmente em duas vertentes.
A primeira está centrada em questões essencialmente teóricas e metodológicas: a interrogação sobre a definição de "utopia", "antiutopia" e "distopia", buscando a superação da dicotomia que nos últimos decênios havia gerado polêmicas, entre a representação clara, separada do melhor e do pior dos mundos possíveis.
A segunda se esforça para encontrar novas possibilidades de discussão da proposta utópica. Útil para este propósito foi o surgimento da definição de "utopia crítica". Com esta definição se pretende fazer referência a figurações de um alhures elaboradas por meio de um processo de desconstrução e de reconstrução, e de uma visão deformante e ideal, que se conciliam em um mundo "outro" não mais rigidamente codificado, mas aberto às negociações do sujeito.
Peter Kuon - Hesito em responder esta pergunta. Se sim, o revival nasce do Yes we can de Obama, promessa e esperança de reinventar uma sociedade e as relações internacionais. Veremos o que se seguirá!
Cosimo Quarta - Acredito que hoje, mais do que um revival, há uma urgente necessidade de utopia. É sabido que depois da queda do comunismo soviético, muitos autores, fazendo infelizmente uma terrível confusão entre utopia e distopia, se precipitaram declarando a "morte" ou o "fim" da utopia, enquanto é possível notar que ela está mais viva do que nunca.
A crise ambiental, primeiro, e a gravíssima crise econômica em nível mundial, agora, mostraram claramente, a todos, os limites do sistema capitalista a tal ponto que hoje por todo lado se invoca uma mudança radical da sociedade em escala planetária. Em particular, a valência utópica da ecologia está se revelando decisiva não apenas para o nosso tempo, mas também para as gerações futuras.
"O milênio se abriu com ferozes conflitos causados por nacionalismos contrapostos'
JU - A produção cultural contemporânea sente a influência das idéias utópicas, em sentido amplo?
Jean-Michel Racault - Sim, sem dúvida, mas com certa desconfiança, que se explica por vários fatores. Primeiramente, a crise das ideologias, principalmente daquelas que propõem receitas mágicas e explicações totalizantes. É o caso de certa vulgata marxista que foi comprometida pela queda do "comunismo real", e mais ainda pela confrontação entre a teoria e sua realização concreta, particularmente terrificante no caso do regime dos Khmers Vermelhos, que era de fato um tipo de utopia posta em prática.
Desconfiança, mais geralmente, face ao próprio movimento do pensamento utópico, percebido como normativo, autoritário, até totalitário: é nobre querer para todos o que é justo, mas não é perigoso impor isso, e esta tentação não é inerente à convicção de deter a verdade? De modo que uma grande parte das utopias modernas é, em realidade, composta de antiutopias cujo objetivo não é propor um modelo de transformação social, mas prevenir contra um processo inevitável, pois resultante da evolução sócio-tecnológica das civilizações.
Penso, certamente, em Brave New World de Huxley [1932] ou em 1984 de Orwell [1949], mas podemos nos perguntar se a antiutopia também não seria tão antiga quanto a utopia. Os grandes textos utópicos são ao mesmo tempo utopias e antiutopias; já era o caso, por exemplo, da sociedade equina imaginada por Swift na última parte das Gulliver's Travels [1726]. Esta sociedade é dada por perfeita, mas, refletindo bem sobre ela, percebemos que esta perfeição a torna inquietante, e de todo modo ela não pode ser um modelo, já que seus habitantes, ironicamente, são cavalos, e não homens...
Talvez haja um campo onde a utopia classicamente positiva permanece como tal hoje em dia. É aquele dos movimentos ditos "alternativos" que nunca conheceram realização enquanto estado de grande amplitude -diferentes do comunismo, por exemplo - e podem portanto, por meio do gênero utópico, exprimir a busca da alteridade em todo seu vigor. Há assim utopias ecologistas como Ecotopia, de Callenbach [1975], ou Voyage au pays de l'utopie rustique, de Mendras [1979]. A forma utópica se presta particularmente bem aqui a encarnar propostas concretas, organizar um debate, refutar objeções, e, sobretudo, a representar visualmente sob a forma de quadros descritivos os resultados assim obtidos pela aplicação das teses ecologistas.
Vita Fortunati - Utopias críticas (critical dystopias), utopias imperfeitas (flawed dystopias): estas novas definições nascidas do vivo debate atual entre estudiosos de utopia colocam em evidência o quanto há, na nossa contemporaneidade, de consciência histórica dos perigos implícitos da utopia entendida como modelo abstrato e totalizante. Percebe-se, portanto, a necessidade de se propor utopias "imperfeitas", onde seus habitantes se interrogam sobre o sentido ético do próprio agir, porque sabem que as utopias perfeitas do passado sempre foram construídas às custas de alguém que nelas não estava incluído ou estava incluído mediante um custo altíssimo de sofrimento e abuso.
O novo milênio se abriu com trágicos episódios de terrorismo - o primeiro da fila foi o 11 de setembro -, e com ferozes conflitos provocados por nacionalismos contrapostos. Estes e outros acontecimentos fariam pensar que estamos novamente em uma fase fria da utopia e do utopismo, mas a recente produção narrativa evidencia como, ao contrário, ainda há necessidade de utopia. Utopia entendida como capacidade de interrogar-se criticamente sobre a realidade que nos circunda, como educação voltada para a imaginação e para o desejo de mudá-la. Ler e estudar a utopia pode, portanto, tornar-se um estímulo para empenhar-se a agir concretamente sobre a realidade.
Na segunda metade do século XX, a utopia não é apenas um objeto de estudo amplamente investigado, como demonstram os numerosos trabalhos neste setor específico, mas torna-se também um modo de declarar o próprio posicionamento político. Deste ponto de vista, consequentemente, a utopia não é nunca um objeto neutro, porque nela há um alto investimento científico e pessoal.
Muitas utopias são fundadas sobre o pensamento de filósofos que renovaram o pensamento ocidental: E. Bloch, M. Foucault, G. Deleuze, F. Guattari, J. Baudrillard e, mais recentemente, F. Jameson, D. Harvey, R. Arundhati, e até o controverso Toni Negri, que indagaram o pensamento marxista para focalizar seus limites e para recontextualizá-lo em relação aos problemas da contemporaneidade, como o globalismo, as novas hegemonias e o pós-colonialismo.
Peter Kuon - Para repensar as "megalópoles" brasileiras, porque não reler Italo Calvino, Le città invisibili, uma reflexão utópica sobre as relações entre os espaços urbanos e seus habitantes?
Cosimo Quarta - Não há dúvida que o pensamento utópico tenha influenciado não apenas a produção cultural contemporânea - história, filosofia, literatura, política, economia, ciência, tecnologia etc.-, mas está penetrando, ainda que com dificuldade, na consciência dos povos.
JU - Quais obras atuais, realmente relevantes, estão dentro de um enquadramento utópico?
Jean-Michel Racault - Um título me vem à lembrança, talvez porque este título contenha em si um resumo de toda a tradição utópica desde o Renascimento: La Possibilité d'une île, romance de Michel Houellebecq publicado em 2005. Sua forma, no entanto, não tem nenhuma relação com a forma de uma utopia, nem, aparentemente, o conteúdo. Mas ele desenvolve, a partir da ficção - que, sem dúvida, logo não será mais uma ficção - da clonagem dos seres humanos, o que poderíamos chamar de uma utopia do pós-humano que abre para o gênero novas perspectivas.
Vita Fortunati - A escrita utópica de mulheres como Ursula le Guin, Joanna Russ, Marge Piercy, nas últimas décadas do século XX, deu voz a novos modelos utópicos esperáveis e desejáveis porque neles os verdadeiros valores da cultura feminina são exaltados: o pacifismo, a ecologia e a descentralização do poder. A utopia permite a visualização de situações insólitas e a experimentação de novos modelos de comportamento. A utopia apresenta soluções alternativas, porém nunca vistas como definitivas, mas sempre dinâmicas e fluidas, como horizontes em direção ao quais se tende.
Peter Kuon - A arte, enquanto recusa da reprodução mimética do mundo, é - e sempre tem sido - utópica.
Cosimo Quarta - É difícil indicar obras isoladas que se enquadrem no pensamento utópico, pois, como dizia antes, em todos os âmbitos do cognoscível humano está presente o pensamento utópico. Para permanecer no campo da utopia literária, basta pensar na vasta produção dos romances de ficção científica, ainda que neles prevaleça com frequência a distopia; é todavia oportuno lembrar que quando a distopia é usada como sinal de alarme para evitar avançar em direção a caminhos equivocados e arriscados, ela assume uma função altamente positiva para a humanidade.
Jean-Michel Racault é professor emérito na Universidade da Réunion (França) de literatura francesa e comparada. Suas pesquisas estão voltadas para as literaturas das viagens e relatos utópicos (séculos XVII e XVIII), a temática literária da insularidade e as obras de Bernardin de Saint-Pierre. Publicou 18 obras como autor ou editor científico e uma centena de artigos.
Peter Kuon é professor de filologia românica (literatura italiana e francesa) e diretor do centro universitário Sciences et Arts na Universidade de Salzbourg. Suas publicações tratam da utopia do Renascimento ao Iluminismo, da recepção criadora dos grandes clássicos, da literatura do holocausto e da literatura contemporânea em geral.
* Colaboraram: prof. Carlos Eduardo Berriel e Ana Cláudia R. Ribeiro (tradução)

segunda-feira, 8 de junho de 2009


Cuba na OEA. pra que?
Escrito por Atílio Boron
05-Jun-2009

Depois de 47 anos, a 39ª Assembléia Geral da OEA selou um acordo para revogar por unanimidade a exclusão de Cuba, aprovada em 1962. A resolução não impõe condições a Cuba, apesar de estabelecer mecanismos que deveriam ser postos em marcha no (improvável) caso de que Havana expresse seu desejo de retornar à OEA (como, ao final, não aceitou). A notícia dá espaço para diversas considerações.

Primeiro: a resolução é um sintoma das grandes mudanças que ocorreram no panorama sócio-político da América Latina e Caribe nos últimos anos e cujo signo distintivo é a persistente erosão da hegemonia norte-americana na região. A revogação daquela ignominiosa resolução imposta pela administração Kennedy revela a magnitude das transformações em curso e que a Casa Branca aceita rangendo os dentes.

Dessa forma se repara – se bem que tardia e parcialmente – uma decisão de manifesta imoralidade e que pesou como um intolerável fardo sobre a OEA e sobre os governos que, com seus votos, ou abstenções, facilitaram os planos do imperialismo norte-americano. Este, ao não mais poder derrotar militarmente a Revolução Cubana em Playa Girón, optou por erguer um ‘cordão sanitário’ para evitar que os fluidos emancipadores contagiassem os demais países da região. Intento que, por certo, fracassou espetacularmente.

Segundo: a debilitação de sua hegemonia não significa que os EUA renunciem a se apoderar, por outros meios, dos recursos e riquezas de nossos países ou a tratar de controlar nossos governos apelando a outros expedientes. Seria um erro imperdoável pensar que, devido a esta queda de sua capacidade de direcionamento político – e intelectual e moral ao mesmo tempo –, o imperialismo deporá suas armas e começará a se relacionar com os nossos países em pé de igualdade. Exatamente o contrário: ante o declínio de sua hegemonia, sua resposta foi nada menos que a reativação da 4ª. Frota, com o propósito de conseguir pela força o que no passado obtinha pela submissão ou cumplicidade dos governos da região. E Obama não emitiu o menor sinal de que pensa em mudar tal política.

Terceiro: Cuba, assim como os demais países de Nossa América, nada tem a fazer na OEA. Tal como assinalamos em inumeráveis oportunidades, essa instituição refletiu um momento especial na evolução do sistema interamericano: o da absoluta primazia dos Estados Unidos. Essa etapa foi superada e não tem volta atrás. A maturação da consciência política dos povos da região fez que mesmo os governos muito afinados com a Casa Branca não tivessem outra opção, a não ser enfrentar os Estados Unidos na condenação do bloqueio a Cuba e, em San Pedro Sula, revogar a decisão de 1962.

Diante de tal situação, a OEA está condenada por sua larga história de dócil instrumento do imperialismo: legitimou invasões, assassinatos políticos, magnicídios (alguns, como o de Orlando Letelier, perpetrados em Washington), golpes de Estado e campanhas de desestabilização de governos democráticos. Foi cega, surda e muda ante as atrocidades do "terrorismo de Estado" patrocinado pelos Estados Unidos e ante políticas criminosas como o Plano Condor. Quando, em maio de 2008, estourou a crise na Bolívia, o conflito foi rapidamente solucionado pelos países da América Latina sem que a OEA desempenhasse papel algum. Não fez falta. Não faz mais falta.

Quarto: o que realmente faz falta é fortalecer e tornar coerentes sem mais adiamentos os diversos projetos de integração dos países da América Latina e do Caribe, como a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) ou a Unasul, iniciativas distintas, mas que expressam a realidade contemporânea da região. A OEA, em compensação, é uma instituição irremediavelmente anacrônica e por isso mesmo inútil; representa um mundo que não existe mais, exceto nos delírios dos saudosos da Guerra Fria, e por isso não pode oferecer nenhuma contribuição para o enfrentamento dos desafios do nosso tempo. Depois de ter revogado a resolução de 1962, o órgão prestaria um grande um grande serviço à humanidade se decidisse se dissolver.

Atílio Boron é doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor titular de Teoria Política na UBA (Universidade de Buenos Aires). É autor do livro "Império e Imperialismo. Uma leitura crítica de Michael Hardt e Antonio Negri", publicado pela editora CLACSO em 2002.

Website: http://www.atilioboron.com/

Trazido por Gabriel Brito, jornalista.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A crise é estrutural, diz Mezsaros -

A Crise Estrutural do Capital
O colapso do sistema financeiro não é a causa, mas sim a manifestação de um impasse na economia mundial. É desta forma, em oposição às linhas de interpretação hegemônicas, que István Mészáros analisa o atual período histórico em sua nova obra, A crise estrutural do capital. No livro, o filósofo desmonta uma série de ilusões associadas aos acontecimentos recentes e afirma que a raízes da crise, na verdade, encontram-se no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo.
Crise dos subprime, crise especulativa, crise bancária, crise financeira – os nomes são muitos para a imensa expansão da aventura especulativa, que abalou o capital financeiro e, naturalmente os ramos produtivos das economias. Em resposta, governos e instituições globais jogam trilhões de dólares no


sistema, ao passo que os indicadores econômicos seguem sinalizando o aprofundamento da deterioração na chamada ‘economia real’.
Mészáros argumenta que é inócua a ação de governos e instituições globais que inundam a economia com trilhões e clamam pelo retorno da “confiança”. A partir de uma visão histórica e sistêmica sobre a crise do capital, o autor mostra que esta crise nada tem de nova. Pelo contrário, é endêmica, cumulativa, crônica e permanente; e suas manifestações são o desemprego estrutural, a destruição ambiental e as guerras permanentes.
Com orelha de Samir Amin e apresentação de Ricardo Antunes, A crise estrutural do capital retoma, assim, as contundentes críticas propostas por Mészáros, ao passo que muitas de suas perspectivas são confirmadas na trajetória descendente da economia global e pelos excessos no sistema financeiro internacional. O autor reafirma, assim, que vivemos uma crise estrutural cada vez mais profunda, cuja superação está além da quantia de zeros destinadas para tapar o buraco do endividamento global.
Com isso, Mészáros evidencia as falhas em tentativas de cunho socialdemocrata, keynesiano ou desenvolvimentista. Para o autor, a crise em desenvolvimento coloca no horizonte a relevância do marxismo e do desafio coletivo para a construção de uma maneira distinta de produzir e viver.
Trechos da obraA grande crise econômica mundial de 1929–1933 se parece com "uma festa no salão de chá do vigário" em comparação com a crise na qual estamos realmente entrando. A crise estrutural do sistema do capital como um todo – a qual estamos experimentando nos dias de hoje em uma escala de época – está destinada a piorar consideravelmente. Vai se tornar à certa altura muito mais profunda, no sentido de invadir não apenas o mundo das finanças globais mais ou menos parasitárias, mas também todos os domínios da nossa vida social, econômica e cultural.
Pela primeira vez na história, o capitalismo confronta-se globalmente com seus próprios problemas, que não podem ser “adiados” por muito mais tempo nem, tampouco, transferidos para o plano militar a fim de serem “exportados” como guerra generalizada.
Com efeito, não há como antes nenhum indício sério do ansiosamente antecipado “declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica”, apesar do aparecimento de numerosos sintomas de crise no sistema global. As contradições que pudemos identificar dizem respeito ao conjunto interdependente do sistema do capital global no qual o capital norte-americano ocupa, mantém e, na verdade, continua a fortalecer sua posição dominante de todos os modos, paradoxalmente até mesmo por meio de suas práticas de imperialismo de cartão de crédito – à primeira vista bastante vulneráveis, embora, até o presente momento, implantadas com sucesso e sem muita oposição.
Sobre o autorNascido em 1930, na Hungria, com doze anos e meio Mészáros já trabalhava como operário em uma fábrica de aviões de carga, tendo que mentir a idade em quatro anos para isso. Graduou-se em Filosofia na Universidade de Budapeste, onde foi assistente de Georg Lukács no Instituto de Estética. Deixou o Leste Europeu após o levante de outubro de 1956 e exilou-se na Itália, onde trabalhou na Universidade de Turim; posteriormente ministrou aulas nas universidades de Londres (Inglaterra), St. Andrews (Escócia) e Sussex (Inglaterra), além de na Universidade Autônoma do México e na Universidade de York (Canadá). Ao retornar à Universidade de Sussex, em 1991, recebeu o título de Professor Emérito de Filosofia. É reconhecido como um dos principais intelectuais marxistas contemporâneos. Autor de obras como Para além do capital (Boitempo, 2002), A educação para além do capital (Boitempo, 2005) e O desafio e o fardo do tempo histórico (Boitempo, 2007), entre outros.
Ficha técnica
Título: A crise estrutural do capital
Título Original: Capital's unfolding systemic crisis
Autor: István Mészáros
Prefácio: Ricardo Antunes
Tradutor: Francisco Raul Cornejo
Páginas: 136
Ano de publicação: 2009
ISBN: 978-85-7559-135-2
Editora: BOITEMPO





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segunda-feira, 25 de maio de 2009

FOLHA É CONDENADA POR SENSACIONALISMO


A Folha de S.Paulo e a jornalista Renata Lo Prete foram condenadas a pagar R$ 139.500,00 a Milton Zuanazzi (foto), ex-presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a título de indenização por danos morais. A ação se refere a uma série de notas difamatórias publicadas em 20 de julho de 2007 na coluna Painel, editada por Lo Prete.
O jornal afirmou que a Anac mantinha relações “promíscuas” com as empresas de aviação, sugerindo que, no interior da Agência, Zuanazzi seria a pessoa encarregada de defender os interesses da Gol. Segundo a Folha, essa suposta interferência teria feito a Anac liberar a pista do aeroporto de Congonhas onde, três dias antes da publicação da nota, havia ocorrido o acidente com o avião da TAM.
Na ação, Zuanazzi lembra que não foi a Anac quem liberou a pista, mas a Infraero. E ressaltou que a Folha, buscando eleger um culpado pela crise aérea, produziu contra ele acusações que jamais conseguiu provar.
Após a analisar as razões de Zuanazzi e a defesa do jornal, a juíza Maria Lúcia Boutros Buchain Zoch Rodrigues, da Vara Civil do Fórum de Porto Alegre (RS), concluiu que a Folha foi “irresponsável”, “leviana” e “sensacionalista”, dando ganho de causa ao ex-presidente da Anac.Para ler a íntegra da sentença, clique aqui.

domingo, 24 de maio de 2009

A verdadeira esquerda e os movimentos sociais


FSM 2009: A verdadeira esquerda e os movimentos sociais
11 de Fevereiro por Ignacio Ramonet

Um grupo de movimentos sociais convocou quatro presidentes latino-americanos para um um diálogo sobre a integração popular da América Latina. Esses presidentes são considerados o bloco da esquerda sul-americana pelo processo de transformação social impulsionados a partir dos seus países. Trata-se de: Hugo Chávez da Venezuela, Evo Morales da Bolivia, Rafael Correa do Equador e Fernando Lugo do Paraguai. O encontro dos presidentes com os movimentos sociais no Fórum Social Mundial (FSM) em Belém (PA) é relatado pelo jornalista e editor do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, em artigo publicado na agência de notícias Alai, 6/2/2009. A tradução é do Cepat.
No ginásio da Universidade do Estado do Pará, Avenida Almirante Barroso, em Belém, no dia 29 de janeiro de 2009, às duas horas da tarde, mais de mil pessoas, militantes e representante dos movimentos sociais e dos movimentos populares de toda a América Latina, com bandeiras, faixas e gritos de alegria, se apinhavam para escutar os verdadeiros presidentes da esquerda latino-americana. O presidente Lula do Brasil não foi convidado. Assistem também ao ato vários bispos brasileiros pertencentes à teologia da libertação, personalidades como Aleyda Guevara, filha de Che, e membros do Conselho Internacional do Fórum Sociail Mundial como Bernard Cassen, François Houtart, Emir Sader e Eric Toussaint.
Um grupo de importantes movimentos sociais – os quais constituem um dos pilares fundamentais do Fórum –, decidiram convidar os quatro presidentes latino-americanos para um "um diálogo sobre a integração popular de nossa América”. Esses presidente são considerados como o “bloco da verdadeira esquerda sul-americana" e se distinguem pelo processo de transformação social impulsionados a partir dos seus países. Trata-se de: Hugo Chávez da Venezuela, Evo Morales da Bolivia, Rafael Correa do Equador e Fernando Lugo do Paraguai.
O primeiro a chegar foi Rafael Correa, minutos depois, chegou Fernando Lugo, os dois com camisas brancas tradicionais de seus países, e ambos acolhidos por uma dilúvio de aplausos. Enquanto esperavam a chegada de Chávez e Morales, alguns músicos interpretaram canções populares latino-americanas. Correa, muito "solto" tomou o micofrone em mãos e se pôs a cantar, mostrando reais talentos musicias e um conhecimento surpreendente das letras de muitas músicas. Em particular, interpretou junto com Marcial Congo, um dos assessores de Fernando Lugo, a célebre Yolanda de Pablo Milanés e, com o próprio Lugo, Hasta siempre Comandante, de Carlos Puebla, acompanhados com entusiasmo por toda a platéia.
Chegam juntos Hugo Chávez e Evo Morales, o primeiro vestindo uma camisa cor verde oliva de estilo militar (mas sem nenhum distintivo castrense) e, o segundo de camisa branca, aplaudidos em pé pelos participantes. Todos se instalam em uma mesa decorada ao fundo por uma grande manta de fundo azul sobre a qual ressaltam belas flores multicolores da Amazônia, com uma grande letreiro: "Solidariedade Internacional".
Os eventos organizdos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começam sempre pelo que eles chamam de uma mística, ou seja, um momento cultural de representação cênica muito simbólica, de inspiração brechtiana, com cantos, poesias e expressões políticas. Entra em cena, um grupo de mulheres e homens, vestidos de camponeses com bandeiras vermelhas e verdes cantando O povo unido jamais será vencido e repetindo a consigna: A revolução apenas a faz um povo unido e organizado. Depois, mudando totalmente de ritmo, com uma energia contagiosa de revolta e protesto, um grupo neopunk interpreta raps revolucionários e insurgentes.
Após esse prelúdio cultural, começa a parte política.
Dois representantes dos movimentos sociais tomam a palavra para expor sua análise da situação da América Latina e apresentar perguntas aos quatro presidentes. Fala, em primeiro lugar, Camille Chalmers, do Haiti, da organização Jubileu Sul. Relata toda a história dos acontecimentos – resistência ao neoliberalismo, auge dos movimentos sociais, luta contra a ALCA – que permitiu chegar a esta conjuntura atual e a onda de governos populares que estão transformando a América Latina. Intervém na sequência, Magdalena León do Equador, da organização REMTE, que lembra a importância da luta das mulheres e de sua grande contribuição às mudanças atuais. Ambos representantes dos movimentos sociais, pedem aos presidentes que garantam o seu apoio às reinvindicações do movimento popular e que se mantenham fiéis as promessas de seus programas e as esperanças depositadas neles por seus povos.
Falam os presidentes:
Rafael Correa – Equador
"Mais do que uma época de mudanças, estamos vivendo uma mudança de época. Quem imaginaria, que em 2001, quando começou os Fórum, que quatro presidentes participariam do Fórum Social Mundial em 2009. Em dez anos, a América Latina viveu uma mudança profunda. Agora se tem muitos governos progressistas, enquanto que, em 2001, apenas se tinha Chávez, como um ’cavaleiro solitário’ (The Lone Ranger ).
Nós, os novos presidentes, somos o reflexo das mudanças dos povos da América Latina. Nós nutrimo-nos dos Fóruns Sociais, e nutrimo-nos também de nossas lutas, das lutas de nossos companheiros desde Martí até Fidel, passando por tantos outros, entre eles Alfaro.
Estamos vivendo a nossa Segunda Independência. E, esta, coincide com a grave crise mundial do neoliberalismo, com o colapso do neoliberalismo de Davos. Não se trata somente de uma crise econômica, mas ela é o resultado da cobiça, do egoísmo e do individualismo erigidos como norma de vida da ideologia neoliberal. É uma ideologia disfarçada de ciência.
É o momento de se opor ao neoliberalismo, o Socialismo do Século 21. O que é o socialismo do século 21? Uma série de compromissos: Intervenção do Estado na Economia; Planificação; Supremacia do trabalho humano sobre o capital; O valor de uso, mais importante do que o valor de troca; a dívida ecológica, a equidade de gênero; a equidade para os povos originários; a autocrítica; a convicção de que não há receitas; a convicção de que o Socialismo do Século 21 não é único, nem estático. Não acreditamos em dogmas, nem em fundamentalismos; propõe-se um viver melhor com um objetivo: um maior bem-estar para os mais pobres do planetas.Uma nova concepção de desenvolvimento.
Mas, para realizar o socialismo do Século 21, temos que aprofundar algumas de nossas iniciativas e avançar em nossa integração: o Banco do Sul, PetroSul, Unasur. Criar uma moeda regional, o Sucre.
Mais integração, é mais garantia para os nossos processos de mudança e progresso. É preciso substituir definitivamente a Organização dos Estados Americanos (OEA), cuja sede se faz em Washington. Não excluiu o Chile de Pinochet, mas expulsou Cuba de Fidel Castro. É chegada a hora de mudar a OEA.
O neoliberalismo entrou em colapso e muitas instituições internacionais também entraram em colapso com ele, entre elas, a OEA. O Fórum Social Mundial é parte da solução de que o mundo necessita".
Fernando Lugo - Paraguai
"A América Latina está mudando. E essa mudança nos têm mudado também. Estamos aprendendo com os movimentos sociais. Eu me lembro das viagens de ônibus para ir do Paraguai até o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, e mais tarde ao Fórum que se realizou em Caracas. Fomos aprender, escutar e impregnarmo-nos das experiências dos demais. Nós somos hoje a expressão da vontade mudança do movimento popular, do movimento social, do movimento camponês e do movimento indígena. Graças ao movimentos social, a América Latina está vivendo esse momento de mudança.
Esta época exige um esforço criativo para construir uma sociedade mais justa e mais fraterna. Nossos países devem integrar-se para defender as decisões que estamos tomando em favor dos nossos povos.
Eu não saíria de Belém tranquilo se não dissesse aqui que devemos encontrar uma solução justa com o Brasil sobre a questão do tratado de Itaipu. Não acreditamos que um tratado leonino, assinado quando haviam ditaduras em nossos países possa continuar vigente. Nossos amigos brasileiros não podem dizer que não são justas nossas reinvindicações de mudanças no tratado. Tem que ser um tratado de igual para igual. Não pode ser desigual. É a concepção de integração que defendemos.
Eu peço a vocês que trabalhem também na integração dos movimentos sociais da América do Sul, para que cessem alguma injustiças históricas. Por exemplo, eu acredito que é injusto que a Bolívia não tenha direito a um acesso ao mar. O mesmo eu digo para o Paraguai, nós também temos direito ao acesso ao mar.
A integração, repito, é a criatividade nas iniciativas para construir uma América do Sul mais justa, mais solidária na qual encontre fim as velhas injustiças. As vezes me dizem que é preciso ter paciência. Eu digo que na América Latina, depois de tanto sofrimento e de injustiças, o que devemos ter é impaciência. Porque estamos impacientes de edificar por fim na América Latina o que queremos. Necessitamos do apoio dos movimentos sociais e de toda a esquerda mundial aqui representada no Fórum Social Mundial. E queremos agradecer ao Fórum tudo o que nos têm trazido, porque aqui temos bebido das idéias, dos programas, das análise para propor a mudança em nossos países".
Evo Morales - Bolivia
"Eu cheguei a pensar que vocês haviam se esquecido de mim. Porque no Fórum Social Mundial, eu sempre vim participar e também sempre me convidaram, mas desde que estou presidente, já não me convidaram mais. E eu pensava que já não os interessava. Assim, agradeço este convite que aguardava faz muito tempo.
Aqui estão os meus professores. Nos Fóruns, eu aprendi e fui compreendido. Se nós chegamos à presidência é, em parte, graças ao Fórum Social Mundial. Porque daqui tiramos idéiais, estabelecemos contatos e redes. Agradeço e quero solidarizar-me com o Movimento dos Sem Terra e com o movimento índigena do Brasil, da Amazônia e de todo a América.
Eu peço também o apoio dos movimentos de esquerda ao nosso processo. Nós podemos cometer erros, e estamos dispostos a corrigir e debater para melhorar o nosso processo, mas a direita quer derrotar essa caminhada, quer interrompê-lo. Na Bolívia, há grupos que não aceitam a nossa eleição e as mudanças que estamos levando à frente, grupos racistas. Mas, com o apoio dos movimentos sociais bolivianos temos conseguido avançar.
Não apenas a imprensa de direita nos ataca, também a Igreja Católica, ou melhor a hierarquia da Igreja. Mas, nós decidimos que os serviços públicos são inegociáveis, decidimos que a vida e a luta pela paz não é negociável, a defesa do meio ambiente e do planeta Terra não é negociável. Pedimos mudanças. E pedimos que nos apóiem para avançar nessas mudanças. Mas também decidimos que para mudar a sociedade, cada de um de nós tem que começar a mudar, começando por si mesmo. Se cada um de nós muda, toda sociedade continuará mudando".
Hugo Chávez - Venezuela
"Gostaria de começar citando Fidel Castro, que é como o pai de todos nós. Falando, já em 2001, sobre o Fórum Social Mundial, Fidel disse que ‘este Fórum é como a expressão das gerações emergentes’. E o subcomandante Marcos, que para além de revolucionário é poeta, disse que o ‘Fórum é com um ninho de sonhos’. Quando estes Fóruns começaram, em 2001, eu já era presidente fazia dois anos, desde 2 de fevereiro de 1999. Já se vão dez anos que marcam o nascimento de uma época. Já, o povo venezuelano se levantou, em 1989, contra o neoliberalismo. Foi um dos primeiros povos que derramou o seu sangue para impedir a imposição desse nefasto modelo neoliberal.
A vida do Fórum, até agora, tem coincidido quase exatamente com os mandatos do presidente do Estados Unidos, George W. Bush, um personagem abominável que deveria ser julgado por Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Com o novo presidente dos EUA, Barack Obama, estamos aguardando, observando sua atuação, o seu governo, que no momento vive com um grave problema interno com a crise economica e financeira. Uma crise que apenas pode ser superada pela via do socialismo. Aqui, por ocasião de um precedente Fórum em Porto Alegre, ao qual fui convidado, declarei pela primeira vez o caráter socialista da revolução bolivariana.
Pedimos a Obama respeito. Porque ele já começou mal, fazendo declarações e dizendo que ‘Chávez é um obstáculo’. Mas, repito, estamos esperando, vamos ver como age. Aplaudimos o fechamento da prisão de Guantánamo, mas muito mais pode ser feito, devolver o território da base de Cuba ao seu povo, ou pelo menos, retirar as tropas da base, desmilitarizá-la. Aí sim seria um sinal positivo. Um sinal de boa vizinhança com toda a América Latina.
Aqui, um novo mundo está nascendo. E quem tem olhos que veja. A Utopia de Tomás Morus – o dizia Bolívar – está aqui, na América Latina, a utopia de um mundo melhor, de um novo mundo está nascendo aqui. Mas, é como um bebê, necessita de proteção e apoio. E a Venezuela está dispota a aportar todo o seu apoio aos processos de transformação social em curso. E trabalhar na consolidação de todos os processos de integração da América do Sul. Porque a integração dos países, dos povo e dos movimentos sociais nos farão mais fortes, mais resistentes, mais progressistas ».
Como conclusão:
Joao Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST):
"Os governos de esquerda latino-americana aqui representados devem avançar ainda mais em mudanças estruturais. Falar de ‘transformação social’ e de ‘processos de mudança’ é ótimo, mas não devem ser apenas discursos. É preciso que aconteçam mudanças estruturais. Para que não se haja recuos. É preciso nacionalizar os bancos. O Estado deve tomar o controle dos mecanismos financeiros.
É preciso construir uma moeda sul-americana que nós propomos que se chame ‘maíz’, porque é o símbolo da soberania alimentar dos povos originários. É preciso fazer uma verdadeira reforma agrária para garantir a soberania alimentar de nossos povos com uma agricultura de um novo tipo, respeitosa com o meio ambiente, e não orientada exclusivamente para exportação. É preciso construir um novo modelo econômico. É preciso democratizar os meios de comunicação.
Os movimentos sociais sempre apoiarão os governos da verdadeira esquerda sul-americana que se comprometam e avancem na realização dessas mudanças estruturais, indispensáveis para construir o socialismo do Século 21 que todos precisamos".
IHU/Unisinos – 11/2/2009 – www.unisinos.br/_ihu

Piratas, ontem e hoje


São estarrecedoras as notícias sobre piratas nas costas da Somália. Para mim, é quase como encontrar, hoje, dinossauros em plena Amazônia

22/05/2009Frei Betto
São estarrecedoras as notícias sobre piratas nas costas da Somália. Para mim, é quase como encontrar, hoje, dinossauros em plena Amazônia. Piratas eram, até agora, lendários personagens de minha infância. No carnaval, fantasiados ou não de piratas (lenço de seda vermelho na cabeça, tapa-olho preto e espada de pau), cantávamos alegres a famosa marchinha de 1947: “Eu sou o pirata da perna de pau / do olho de vidro / da cara de mau...”
Súbito, eis notícias de que, em pleno século 21, há piratas de verdade atacando grandes embarcações no litoral da Somália. É Homero quem, na Odisseia, cita pela primeira vez ‘pirata’, termo que deriva do grego ‘assaltar’.
Entre os séculos 16 e 18, os piratas infestaram os mares do Caribe. A atual Ilha da Juventude, em Cuba, era conhecida como Ilha do Tesouro e ensejou várias histórias de aventuras. Ali os piratas escondiam seus botins.
Todos os piratas são bandidos? O historiador usamericano Marcus Rediker, no livro Villains of all nations (Vilões de todas as nações), descreve as dramáticas condições em que trabalhavam os marujos ingleses nos séculos passados. Viviam num inferno flutuante, tratados como escravos. Quem se rebelasse era chicoteado como o nosso João Cândido, o “almirante negro” da Revolta da Chibata (1910). Os reincidentes, atirados aos tubarões; os sobreviventes, recebiam salários de fome. Os marujos foragidos da desumana marinha de suas majestades tornaram-se piratas e criaram, diante disso, uma “outra marinha possível”: aboliram a tortura, passaram a escolher seus comandantes por eleição, partilhavam entre si os botins. Enquanto eles assaltavam navios, a marinha européia saqueava países - na Ásia, na África e na América Latina. A história de nosso Continente que o diga...Segundo Rediker, os piratas, que acolhiam a bordo escravos africanos para libertá-los, implantaram "um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18".
A Somália entrou em colapso em 1991 e, desde então, seus nove milhões de habitantes vivem em situação de miséria. O litoral do país é utilizado pelas nações metropolitanas como lixeira da sucata nuclear. Junto ao lixo atômico, outros tipos de dejetos têm sido jogados no mar da Somália, causando enfermidades na população, como erupções de pele, náuseas e bebês malformados. Após o tsunami de 2005, muitos apresentaram sintomas de radiação. Morreram cerca de 300 pessoas. E inúmeros navios europeus pilham a pesca do litoral da Somália. Por ano, carregam dali toneladas de atum, camarão e lagosta.
Assim, os “piratas” somalianos – que se autonomeiam “Guarda Costeira Voluntária da Somália” - são pescadores afetados em seus direitos e em busca de alguma compensação frente ao saque e à contaminação de suas águas por nações européias. Em entrevista ao jornal The Independent, Sugule Ali, um dos líderes dos “piratas”, declarou: "Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam o nosso peixe."
Johann Hari, colunista do jornal inglês, se pergunta: “Por que os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se morrer de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente aos pesqueiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passam 20% do petróleo do mundo, imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.”
No século 4 a.C., um pirata foi levado preso à presença de Alexandre, o Grande, que indagou se ele pretendia tornar-se senhor dos mares. O homem respondeu qual era a sua intenção: "O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador." E hoje, quem é o principal ladrão?
Frei Betto é escritor, autor de “Gosto de Uva” (Garamond), entre outros livros.

sábado, 16 de maio de 2009

“O neoliberalismo nos forçou a pensar pequeno”


por Michelle Amaral da Silva última modificação 14/05/2009 16:12

Para Márcio Pochmann, ricos precisam ser tributados diferentemente dos pobres

Para Márcio Pochmann, ricos precisam ser tributados diferentemente dos pobres
Além de se caracterizar como uma crise estrutural, com efeitos no crédito e nos investimentos; e sistêmica, repleta de efeitos sociais e políticos, pela primeira vez, uma crise econômica também é globalizada. Esse foi um dos destaques do seminário “As crises do capitalismo”, de Márcio Pochmann, realizado no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. A palestra faz parte do Curso sobre a Crise do Capitalismo,

Inédita também por envolver “graves problemas ambientais”, a crise deixou evidente, segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a “desgovernança” do mundo. “A Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), foram incapazes de dizer algo relevante”, afirma o economista.

Comportamento

O presidente do Ipea ainda destacou o peso das maiores corporações do mundo, não somente na produção de produtos e serviços, mas também de padrões comportamentais. “As empresas tem os países 48% do PIB do mundo são de 500 corporações. Essas corporações são as reprodutoras do padrão de consumo. É preciso repensar isso tudo e construir um novo padrão de consumo”, afirma Pochmann.

Para ilustrar o atual contexto em que a humanidade vive, o economista compara as características familiares de um século atrás com a atualidade. Segundo ele, antes as casas eram menores e se constituíam como espaços de socialização das pessoas. Hoje em dia, as casas são maiores, moram menos pessoas, porém, “viraram depósitos de que compramos”, e menos um espaço de socialização familiar.

Para o economista, é necessário superar o atual conceito de “bem-estar social”, tendo em vista que “o neoliberalismo nos forçou a pensar pequeno”, segundo ele afirmou. Entretanto, uma nova postura comportamental, segundo ele, “não muda de um dia para o outro”. “Precisamos, por exemplo, tributar os ricos e fazer mais mudanças. Mas precisamos ter base política”, pondera.

A crise e o Brasil

Ainda sob a forte influência neoliberal, e sua força de fazer os trabalhadores pensar pequeno, “não estamos construindo uma agenda de transformação, de refundar o Estado”, pontua Pochmann. Segundo ele, “o Estado que temos hoje não serve”, pois ainda é fundamentado por práticas pensamentos do século do 20.

No contexto nacional, o presidente do Ipea critica as ações contraditórias próprio governo federal que tenta impulsionar o consumo beneficiando as grandes montadoras de carro, ao passo que, ao invés disso, poderia forçar a diminuição das passagens de ônibus ou mesmo o preço da cesta básica. Com indignação, Pochmann soma a essas mais uma questão: “Por que não tributam os ricos?”.

Em relação às medidas tomadas pelo governo brasileiro, Pochmann afirmou que ações como redução de impostos, de juros, e elevação do salário mínimo, possivelmente evitarão a recessão no país. Ele ainda acrescenta que é muito provável que haja um crescimento econômico que atinja até 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ele não minimiza, porém, o retrocesso de desenvolvimento social que vinha ganhando força desde os anos de 2003 e 2004 no país. “Vamos conviver com um maior desemprego e o aumento da pobreza e desigualdade”, conclui o economista.

Fonte: Brasil de Fato

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em defesa do financiamento público de campanha


O cidadão que observa com senso crítico os acontecimentos da política sabe que o financiamento de campanhas, no formato atual, é fator incontrolável de corrupção. A enorme fieira de grandes escândalos das últimas décadas se origina, sem sombra de dúvidas, na lógica do financiamento eleitoral privado. Provas? Basta puxar pela memória, em qualquer dos casos, para dar de cara com as figuras tristemente famosas dos tesoureiros de campanha: Delúbios, Valérios, PCs Farias e afins.

Por conta de tais antecedentes, esse mesmo cidadão tem razões de sobra para se espantar com o que leu nos jornais da semana. No momento em que se anuncia a entrada na pauta de votação do Congresso Nacional de uma proposta de mudança no financiamento de campanha, os dois maiores jornais de circulação nacional (Folha de S. Paulo e O Globo) abriram editoriais defendendo a manutenção do formato atual. Estranhíssima defesa, ancorada em argumentos fracos e ênfase demasiada. Difícil entender, inevitável desconfiar, impossível concordar com tal suspeitosa feição.

As campanhas eleitorais no Brasil estão entre as mais caras do mundo. E cada eleição é mais cara do que a anterior do mesmo gênero. Um custo altíssimo que, depois de passear por empreiteiros, banqueiros, "petequeiros" e tesoureiros, termina por sangrar o erário público. Basta seguir o dinheiro para saber quem, no final, paga a conta. O doador só é generoso porque mama em dobro nas tetas do Tesouro.

Além de caras, as campanhas se organizam de sorte a tornar impossível a fiscalização. Há milhares de candidaturas individuais, que arrecadam e gastam. Um caos que ninguém controla. A Justiça Eleitoral só acompanha, e mal fiscaliza, os gastos declarados do "caixa um". O caixa "um e meio", a chamada doação oculta que se avoluma a cada pleito, torna ainda mais opaco o processo e mais difícil a fiscalização. Do caixa dois, então, nem se fala: só quando estoura escândalo dos grossos é que se vê o tamanho do prejuízo.

Embora precários e parciais, por se limitar ao declarado, os dados da Justiça Eleitoral permitem definir outra peculiaridade brasileira. No Brasil, mais do que em qualquer outro país do mundo, o financiamento privado de campanha é fundamentalmente bancado por "pessoas jurídicas", ou seja, por corporações empresariais. A chamada contribuição cidadã, de pessoas físicas, tem um peso apenas residual. Resultado: o "mercado" do financiamento eleitoral é amplamente dominado por reduzidíssimo grupo de grandes corporações empresariais: banqueiros, empreiteiros, fornecedores e, mais recentemente, os novos barões do setor privatizado.

Por suposto, a manutenção do formato atual de financiamento interessa muito a este seleto e poderoso grupo, não por acaso também grande anunciante nos jornais. Mantido tal formato, ficam assegurados os vínculos de dependência entre as máquinas eleitorais acoitadas nos aparatos de governo, as elites políticas da ordem dominante e os interesses empresariais das grandes corporações. Ao mesmo tempo em que se estabelecem obstáculos para que outros interesses sociais, novos valores e projetos políticos possam emergir nos processos da disputa.

Aliás, neste sentido, as duas últimas eleições foram bastante reveladoras. A eleição presidencial foi a mais cara da história do Brasil e o vitorioso arrecadou de montão, até depois de passado o pleito. Os candidatos de opinião, de qualquer posição (esquerda, direita, centro), tiveram seus espaços reduzidos (votações menores e alguns, como Delfim Neto, não eleitos). Enquanto isso, por outro lado, ficou escancarada a formação de bancadas das grandes corporações no Parlamento. O mesmo diapasão operou no pleito municipal, tanto na eleição de vereadores quanto na de prefeitos. Nas capitais, e não apenas nelas, foram eleitos aqueles que arrecadaram mais e gastaram mais dinheiro nas campanhas. E quem ocupou o segundo lugar em votos também foi o segundo no quesito gastos, confirmando o poder do dinheiro e a progressiva mercantilização do processo eleitoral.

O financiamento público não é panacéia universal, nem elimina por mágica a corrupção eleitoral. Mas quebra o círculo vicioso atual e pode abrir espaços para corrigir distorções. Para tanto, é fundamental que ele seja exclusivo e defina punição rigorosa para os transgressores: candidatos, partidos e financiadores. Vai baratear as campanhas e facilitar o trabalho de fiscalização, na medida em que estabeleça teto de gastos para cada cargo em disputa e, ao mesmo tempo, estruture um rigoroso aparato de fiscalização sobre o uso do fundo público eleitoral.

O direito de votar, assegurado de maneira igualitária ao cidadão, só produzirá eficácia plena quando o "direito de ser votado" deixar de sofrer, como acontece agora, a interferência indevida do poder econômico. Esse é o sentido maior da luta em defesa do financiamento público de campanha.

Léo Lince é sociólogo.