ESPECIALISTAS TENTAM EXPLICAR
Muitas teorias foram discutidas nos últimos dias para tentar explicar as causas dos distúrbios na Inglaterra. De decadência moral a consumismo excessivo. No texto abaixo, criminologistas e especialistas dão opiniões a respeito de alguns dos argumentos.
Dependência do sistema de bem-estar:
Max Hastings, em um artigo para o jornal britânico Daily Mail, falou a respeito de um "espírito social pervertido, que eleva a liberdade pessoal ao absoluto, e nega à classe baixa a disciplina (...) que, sozinha, poderia capacitar alguns de seus membros para escapar do pântano de dependência em que vivem".
David Wilson, professor de criminologia da Birmingham City University, afirma que existe uma cultura de merecimento na Grã-Bretanha. "Mas não é apenas relativa à classe baixa - é relativa aos políticos, aos banqueiros, aos jogadores de futebol".
"Não é apenas com uma classe em particular, permeia todos os níveis da sociedade. Quando vemos políticos pedindo TVs de tela plana e sendo presos por fraudarem suas despesas, fica claro que os jovens de todas as classes não estão tendo uma liderança apropriada", afirmou.
Exclusão social:
Camila Batmanghelidjh, fundadora da organização de caridade Kids Company, escreveu em um artigo para o jornal The Independent que existe uma percepção de que a comunidade não fornece nada aos seus membros. "...Não se trata do ataque ocasional contra a dignidade, é a humilhação repetida, ser continuamente desprovido em uma sociedade rica em posses".
Estudos sugerem que viver em áreas socialmente desprivilegiadas pode ser um fator, de acordo com Marian FitzGerald, professora convidada de criminologia na Universidade de Kent. "Mas os excluídos sociais não são sempre os que causam os distúrbios, na verdade eles geralmente são os que estão mais vulneráveis aos tumultos. Precisamos de uma abordagem melhor ao invés de apenas usar a exclusão social como uma desculpa".
Falta de pais:
Segundo Cristina Odone, do jornal Daily Telegraph, a causa dos distúrbios pode ser encontrada na falta de um modelo masculino nas famílias. "Como a esmagadora maioria dos jovens criminosos presos, estes membros de gangues tem uma coisa em comum: não há um pai em suas casas".
"Criei dois meninos sozinha", afirma a professora Marian FitzGerald. "Sim, existem algumas questões a respeito de onde os meninos vão tirar um senso positivo de masculinidade quando não tem ninguém em casa para dar isto. Mas se você tem uma família estável, então eles meninos podem ser bem-sucedidos".
Cortes nos gastos:
O candidato do Partido Trabalhista à Prefeitura de Londres, Ken Livingstone, sugeriu em entrevista à BBC que as medidas de austeridade do governo foram responsáveis pelos distúrbios. "Se você está fazendo grandes cortes, sempre há o potencial para este tipo de revolta", disse.
Mas, para a professora FitzGerald, é muito cedo para afirmar isto. "A total implementação dos cortes para os serviços de autoridades locais, que terá o maior impacto nestas áreas, só será sentida no próximo ano". "No entanto, pode ser que devido à tanta informação sobre a polícia cortando gastos, os causadores dos tumultos podem ter assimilado a mensagem de que a probabilidade de serem pegos é menor".
Pouco policiamento:
Em um editorial, o tabloide The Sun afirmou que é "loucura" o fato de canhões de água não terem sido disponibilizado para os policiais e que o Parlamento "não deve ser sensível" a respeito do uso de gás lacrimogêneo e munição não letal.
Também foi discutido o impacto das críticas ao policiamento dos protestos durante a reunião do G20 em Londres, em 2009. Alguns comentaristas sugeriram que os policiais podem ter medo de enfrentar os saqueadores diretamente temendo processos.
O professor David Wilson afirma que pode ter feito alguma diferença se os saqueadores tivessem encontrado um policiamento mais forte. "Vários saqueadores que foram entrevistados claramente gostavam do sentimento de poder. Eles foram estimulados a sentir que as cidades pertenciam a eles", disse. "Mas, não acho que isto está relacionado ao politicamente correto. O que tem caracterizado a Justiça britânica nos últimos 25 ou 30 anos é o grande número de jovens que mandamos para as prisões em comparação com nossos vizinhos europeus".
Racismo:
A violência começou no bairro londrino de Tottenham, no sábado, depois da morte de Mark Duggan, um negro de 29 anos, baleado pela polícia. Christina Patterson, do jornal The Independent, afirmou que a questão racial não pode ser negligenciada.
"Muitos homens negros foram mortos pela polícia. Muitos homens e mulheres foram tratados como criminosos quando não eram. Esta não é a causa destes distúrbios, mas está lá, na mistura".
Mas a professora FitzGerald afirma que as mortes nas mãos da polícia são muito raras. "Segundo relatórios do IPCC (comissão que supervisiona o trabalho policial) nos últimos três anos ocorreram apenas sete e todos elas foram de pessoas brancas".
"A Polícia Metropolitana passou por grandes mudanças de atitute (...). Dito isto, o uso desproporcional dos poderes de parada e busca em cidadãos levou jovens negros em particular, que normalmente obedecem à lei, a potenciais confrontos com a polícia", acrescentou.
Gangsta rap e cultura:
Escrevendo para o Daily Mirror, Paul Routledge culpou a "cultura perniciosa de ódio que cerca o rap, que glorifica violência e despreza a autoridade (especialmente a polícia, mas incluindo os pais), exalta o materialismo inútil e elogia as drogas".
Para o professor David Wilson está claro que a cultura das gangues é um fenômeno real. "Uma vez eu entrevistei um menino que disse que 'apenas porque eu gosto da música não significa que eu concordo com as letras', e isto é verdade", afirma a professora FitzGerald. "Mas pode ser um fator quando levamos em conta aqueles podem ser particularmente suscetíveis".
Consumismo:
"Estes são saques em shoppings, caracterizados pelas escolhas dos consumidores", afirmou Zoe Williams, do jornal The Guardian. "Isto é o que acontece quando as pessoas não têm nada, quando coisas que eles não podem pagar são constantemente esfregadas em suas caras e eles não tem razão para acreditar que serão capazes de comprar estas coisas algum dia", acrescentou.
A professora Marian FitzGerald afirma que, em estudos sobre crimes de rua, este é um fator a ser lembrado. "Mas, com os distúrbios recentes, eu não tenho certeza - no contexto dos saques, está relacionado com o que você pode fazer. Além de telefones celulares e roupas, também houve roubos de coisas pequenas como doces e latas de cerveja".
Oportunismo:
"Enquanto mais e mais pessoas se envolveram com os distúrbios, outros tentaram se juntar a eles, confiantes de que uma pessoa em um mar de centenas tem pouca probabilidade de ser pega ou responsabilizada", escreveu Carolina Bracken para o jornal The Irish Times.
"Oportunismo misturado com o sentimento de fazer parte de uma grande gangue poderão ter estimulado quem normalmente não faria algo assim", afirma a professra FitzGerald. "Também é significativo o sentimento de invulnerabilidade, pois eles fazem parte de algo tão grande. E também está ligado a isto o sentimento de fazer algo transgressivo e se sentir poderoso em uma cultura na qual eles não tem muito poder".
Tecnologia e redes sociais:
"Redes sociais e outros métodos foram usados para organizar estes níveis de ganância e criminalidade", afirmou Steve Kavanagh, da Polícia Metropolitana.
Para o professor David Wilson, este é um fenômeno pouco explorado. "Durante anos sabemos que gangues e hooligans usavam a tecnologia para se juntar e brigar. Acho que a polícia foi muito lenta para reagir a isto". "Mas, como sabemos, telefones celulares também podem ser usados para enfrentar a criminalidade e, até certo ponto, acho que é algo que a polícia prefere subestimar", acrescentou.
Dependência do sistema de bem-estar:
Max Hastings, em um artigo para o jornal britânico Daily Mail, falou a respeito de um "espírito social pervertido, que eleva a liberdade pessoal ao absoluto, e nega à classe baixa a disciplina (...) que, sozinha, poderia capacitar alguns de seus membros para escapar do pântano de dependência em que vivem".
David Wilson, professor de criminologia da Birmingham City University, afirma que existe uma cultura de merecimento na Grã-Bretanha. "Mas não é apenas relativa à classe baixa - é relativa aos políticos, aos banqueiros, aos jogadores de futebol".
"Não é apenas com uma classe em particular, permeia todos os níveis da sociedade. Quando vemos políticos pedindo TVs de tela plana e sendo presos por fraudarem suas despesas, fica claro que os jovens de todas as classes não estão tendo uma liderança apropriada", afirmou.
Exclusão social:
Camila Batmanghelidjh, fundadora da organização de caridade Kids Company, escreveu em um artigo para o jornal The Independent que existe uma percepção de que a comunidade não fornece nada aos seus membros. "...Não se trata do ataque ocasional contra a dignidade, é a humilhação repetida, ser continuamente desprovido em uma sociedade rica em posses".
Estudos sugerem que viver em áreas socialmente desprivilegiadas pode ser um fator, de acordo com Marian FitzGerald, professora convidada de criminologia na Universidade de Kent. "Mas os excluídos sociais não são sempre os que causam os distúrbios, na verdade eles geralmente são os que estão mais vulneráveis aos tumultos. Precisamos de uma abordagem melhor ao invés de apenas usar a exclusão social como uma desculpa".
Falta de pais:
Segundo Cristina Odone, do jornal Daily Telegraph, a causa dos distúrbios pode ser encontrada na falta de um modelo masculino nas famílias. "Como a esmagadora maioria dos jovens criminosos presos, estes membros de gangues tem uma coisa em comum: não há um pai em suas casas".
"Criei dois meninos sozinha", afirma a professora Marian FitzGerald. "Sim, existem algumas questões a respeito de onde os meninos vão tirar um senso positivo de masculinidade quando não tem ninguém em casa para dar isto. Mas se você tem uma família estável, então eles meninos podem ser bem-sucedidos".
Cortes nos gastos:
O candidato do Partido Trabalhista à Prefeitura de Londres, Ken Livingstone, sugeriu em entrevista à BBC que as medidas de austeridade do governo foram responsáveis pelos distúrbios. "Se você está fazendo grandes cortes, sempre há o potencial para este tipo de revolta", disse.
Mas, para a professora FitzGerald, é muito cedo para afirmar isto. "A total implementação dos cortes para os serviços de autoridades locais, que terá o maior impacto nestas áreas, só será sentida no próximo ano". "No entanto, pode ser que devido à tanta informação sobre a polícia cortando gastos, os causadores dos tumultos podem ter assimilado a mensagem de que a probabilidade de serem pegos é menor".
Pouco policiamento:
Em um editorial, o tabloide The Sun afirmou que é "loucura" o fato de canhões de água não terem sido disponibilizado para os policiais e que o Parlamento "não deve ser sensível" a respeito do uso de gás lacrimogêneo e munição não letal.
Também foi discutido o impacto das críticas ao policiamento dos protestos durante a reunião do G20 em Londres, em 2009. Alguns comentaristas sugeriram que os policiais podem ter medo de enfrentar os saqueadores diretamente temendo processos.
O professor David Wilson afirma que pode ter feito alguma diferença se os saqueadores tivessem encontrado um policiamento mais forte. "Vários saqueadores que foram entrevistados claramente gostavam do sentimento de poder. Eles foram estimulados a sentir que as cidades pertenciam a eles", disse. "Mas, não acho que isto está relacionado ao politicamente correto. O que tem caracterizado a Justiça britânica nos últimos 25 ou 30 anos é o grande número de jovens que mandamos para as prisões em comparação com nossos vizinhos europeus".
Racismo:
A violência começou no bairro londrino de Tottenham, no sábado, depois da morte de Mark Duggan, um negro de 29 anos, baleado pela polícia. Christina Patterson, do jornal The Independent, afirmou que a questão racial não pode ser negligenciada.
"Muitos homens negros foram mortos pela polícia. Muitos homens e mulheres foram tratados como criminosos quando não eram. Esta não é a causa destes distúrbios, mas está lá, na mistura".
Mas a professora FitzGerald afirma que as mortes nas mãos da polícia são muito raras. "Segundo relatórios do IPCC (comissão que supervisiona o trabalho policial) nos últimos três anos ocorreram apenas sete e todos elas foram de pessoas brancas".
"A Polícia Metropolitana passou por grandes mudanças de atitute (...). Dito isto, o uso desproporcional dos poderes de parada e busca em cidadãos levou jovens negros em particular, que normalmente obedecem à lei, a potenciais confrontos com a polícia", acrescentou.
Gangsta rap e cultura:
Escrevendo para o Daily Mirror, Paul Routledge culpou a "cultura perniciosa de ódio que cerca o rap, que glorifica violência e despreza a autoridade (especialmente a polícia, mas incluindo os pais), exalta o materialismo inútil e elogia as drogas".
Para o professor David Wilson está claro que a cultura das gangues é um fenômeno real. "Uma vez eu entrevistei um menino que disse que 'apenas porque eu gosto da música não significa que eu concordo com as letras', e isto é verdade", afirma a professora FitzGerald. "Mas pode ser um fator quando levamos em conta aqueles podem ser particularmente suscetíveis".
Consumismo:
"Estes são saques em shoppings, caracterizados pelas escolhas dos consumidores", afirmou Zoe Williams, do jornal The Guardian. "Isto é o que acontece quando as pessoas não têm nada, quando coisas que eles não podem pagar são constantemente esfregadas em suas caras e eles não tem razão para acreditar que serão capazes de comprar estas coisas algum dia", acrescentou.
A professora Marian FitzGerald afirma que, em estudos sobre crimes de rua, este é um fator a ser lembrado. "Mas, com os distúrbios recentes, eu não tenho certeza - no contexto dos saques, está relacionado com o que você pode fazer. Além de telefones celulares e roupas, também houve roubos de coisas pequenas como doces e latas de cerveja".
Oportunismo:
"Enquanto mais e mais pessoas se envolveram com os distúrbios, outros tentaram se juntar a eles, confiantes de que uma pessoa em um mar de centenas tem pouca probabilidade de ser pega ou responsabilizada", escreveu Carolina Bracken para o jornal The Irish Times.
"Oportunismo misturado com o sentimento de fazer parte de uma grande gangue poderão ter estimulado quem normalmente não faria algo assim", afirma a professra FitzGerald. "Também é significativo o sentimento de invulnerabilidade, pois eles fazem parte de algo tão grande. E também está ligado a isto o sentimento de fazer algo transgressivo e se sentir poderoso em uma cultura na qual eles não tem muito poder".
Tecnologia e redes sociais:
"Redes sociais e outros métodos foram usados para organizar estes níveis de ganância e criminalidade", afirmou Steve Kavanagh, da Polícia Metropolitana.
Para o professor David Wilson, este é um fenômeno pouco explorado. "Durante anos sabemos que gangues e hooligans usavam a tecnologia para se juntar e brigar. Acho que a polícia foi muito lenta para reagir a isto". "Mas, como sabemos, telefones celulares também podem ser usados para enfrentar a criminalidade e, até certo ponto, acho que é algo que a polícia prefere subestimar", acrescentou.
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